Thursday, February 1, 2007

Reflexão a partir do signo em Peirce

O conceito de signo em Peirce é pensado de modo triádico, a relação de significação é uma relação "segundo a qual um “representamen” suscita, num intérprete, um “interpretante” a propósito de um “objecto”" (p. 8). Pergunto-me porque não é uma relação tetraédica, tendo em conta a necessária relação com o sujeito INTÉRPRETE e a sua função na classificação dos tipos de signo. Se é o "sujeito que ao interpretar o signo, procede à associação objecto-representamen-interpretante", não é ele constituinte do signo? I.e., há signo sem haver intérprete? Por outro lado, não deveria também ser perspectivada a relação com o sujeito como produtor do signo? Há aqui uma abstracção metódica tal como a de Saussure em relação ao referente? Engraçado, a exiguidade da entrada Subject no diccionário que o Carlos apontou (www.helsinki.fi/science/commens/dictionary.html)...

Ao aproximar-se o signo segundo Saussure e segundo Peirce, é normal dizer-se que no primeiro é pensado como uma relação diádica e no segundo como triádica. A noção de referente, correspondente a objecto em Peirce, está ausente em Saussure e é inserida posteriormente no quadro saussuriano por autores que trabalham a partir dele. Note-se que Saussure fala em referente, da função referencial da linguagem e da distinção entre significado e referente. Mas o significado define-se exclusivamente pela sua relação com outros signos, não pela sua relação como o objecto. É a sua orientação para a análise formal imanente da linguagem que o faz não considerar essa função como um constituinte essencial do signo (linguístico). Ao passar da linguística para a semiótica ou para a pragmática tal tem de ser revisto. (Ver pp. 257 e 361 de Ducrot O. e Schaeffer, J-M. (1995). Nouveau dictionnaire encyclopédique des sciences du langage. Points, Paris: Editions du Seuil).

Debrucemo-nos sobre o signo, classificado na sua relação com o objecto, e em especial na distinção entre ícone (que se subdivide em imagens, diagramas e metáforas) índice e símbolo. O texto apresenta a sua distinção e problematiza-a.

Comecemos com o ícone. O ícone é um signo que significa um objecto através da relação de semelhança. Um signo icónico não é necessariamente uma imagem, uma representação figurativa. As representações diagramáticas (relação de semelhança estrutural, de relações) e metafóricas (paralelismo qualitativo) também são pensadas como ícones. Quais as questões que se levantam em relação ao ícone? Existem de facto ícones? O processo da representação icónica é feito com base no estatuto construído da semelhança. Não há semelhança do signo com o objecto que seja natural (como na linguagem adâmica, iconografia divina, em que os nomes dizem as coisas, ou em que se vê nas manchas do leopardo o seu nome, como dizia Borges), é convencional e aprendida. Não só no caso das imagens (ver exemplos do estudo de Gombrich) como também no dos diagramas e mesmo das imagens mentais (ECO, U. (1985). O Signo. Lisboa: Editorial Presença, pp. 52-8 e 122-131).

Estamos em terrenos do problema epistemológico da relação (realista) entre a representação e o objecto e a crítica da representação especular.

Vejamos o caso do índice. O índice significa através de uma relação causal de contiguidade física. Aqui também se encontra a questão do estatuto natural/convencional da significação, premente no caso dos ícones e o papel do intérprete. A remissão para o objecto só se faz através de um aprendizagem. Sem ela não há reconhecimento, logo, não há signo indicial. Ex: estou na selva e não reconheço o rasto da serpente que a seguir me morde, não havia indícios da serpente. Nota: podemos pensar se no caso dos animais não há uma semiótica natural, instalada geneticamente?

Conclusão: Não há ícones nem índices, apenas símbolos? Ou a simbolização está no fundamento dos outros processos icónicos?
É a linha que segue U. Eco, que acaba por propor outra tipologia mais fina (Ibidem, p. 59).

Não vou apresentar aplicação pois julgo que vai ser pedida a seguir…

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